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Pet Sounds – The Beach Boys


O nome do disco é Pet Sounds. ‘Tá bom, chegamos a um consenso: a capa é estranha pra caramba, todos os cinco Beach Boys são feios e o próprio nome da banda nos dá a idéia de uma banda de praia com baladinhas comerciais, algo que podemos representar atualmente com os Rebeldes e Calypsos da vida. Ninguém pensa só pela capa que é um disco de rock. E, tecnicamente, não é muito, mesmo. Ok, já levamos em conta todos os aspectos negativos, agora vamos em frente: a crítica da época considerou o disco uma obra-prima, os fãs estranharam a diferença súbita entre as canções melódicas desse álbum e a velha surf music que os Beach Boys faziam antes, e esse álbum foi usado como fonte de inspiração para que os Beatles criassem o Revolver e o Sgt. Pepper‘s. Poxa, quer mais que isso?

A resposta ao grande porquê que nos fica estampado na cara quando ouvimos esse disco e perguntamos como os Beach Boys puderam evoluir tanto é simples: Brian Wilson. O líder da banda, produtor e quem fazia a maior parte dos arranjos, passou tudo que sentia ao álbum: todos os sentimentos que gritavam no seu interior (temos que lembrar que ele era esquizofrênico) e todas as melodias complexas que pulavam em sua cabeça. Filho de um homem austero, que foi quem montou a banda já com o intuito de transformar o filho em um artista rico, sentia-se pressionado e exilado do mundo. Viajou em LSD alguns anos depois. Mas lembrem-se: quando foi lançado o Pet Sounds, ainda estávamos em 1966, os Stones estavam começando a decolar como os Beatles (esses ainda no Rubber Soul, sem beber da psicodelia), num cenário estadunidense de praias e surfe. Meros detalhes técnicos: a banda era formada por Brian Wilson tocando violão, orgão, piano e teclados, Mike Love como vocalista principal, Carl Wilson no violão, Al Jardine nos vocais e Dennis Wilson na bateria. Todos eles ajudavam nos backing vocals e ainda tinham uma orquestra de cinqüenta e cinco músicos à sua disposição, presente da Capitol/EMI.

É com acordes leves que começa o álbum, demonstrando toda uma linha de música que os Beach Boys seguiriam pelo resto do disco. “Wouldn‘t it Be Nice” se inicia leve, até entrar a percussão e os backing vocals soando como se fossem outro instrumento. Todos os instrumentos são tocados com precisão absoluta, e a letra, linda, fala de um amor eterno em “não seria legal se fossemos velhos?/assim não teríamos que esperar tanto.”

“You Still Believe Me” tem um toque leve, e o vocal segue cantando de forma crescente, assim como sua letra, que também linda, fala de amor eterno. Destaque para a pausa no fim em que o vocal pára e volta a cantar. É aqui que percebemos que o álbum não é simplesmente uma junção de canções, mas sim uma grande canção que se estende até o fim.

A faixa seguinte, “That‘s Not Me”, é uma das mais lindas canções sobre solidão e família. As cordas soam ao fundo de forma maravilhosa. A letra, tudo. Impossível de descrever ouça. O refrão, “uma vez tive um sonho/então empacotei tudo/e pulei para cidade”, que se altera nas palavras mas mantém o mesmo tom, é, por falta de palavra melhor, emocionante.

“Don‘t Talk (Put Your Head On My Shoulder)” inicia as músicas tristes do álbum. O vocal soa como um lamento e os instrumentos se demonstram lentos e crescentes. A canção segue a letra: “não fale/ponha sua cabeça em meu ombro”, pois segue uma linha que acalma até o headbanger mais fanático por Judas Priest. Podemos ouvir um violino ao fundo, e é ele que dá o toque que revira a canção, com a bateria logo após, pouco antes de a voz voltar e o ouvinte se acalmar.

“I‘m Waiting for the Day” é a canção mais alegre do disco, com percussão super animada no começo, até se acalmar e a animação cair sobre o vocal, que canta sobre a ansiedade por um dia em que o amor possa dar certo. Uma bela música, realmente animadora.

A próxima faixa, “Let‘s Go Away For Awhile” é totalmente instrumental, numa linda melodia que vai crescendo conforme outros instrumentos se unem aos anteriores, até mudar completamente e se tornar outra melodia linda...

“Sloop John B” é um rock clássico, símbolo dos símbolos, que os Beach Boys transformam em música para ser cantada com os amigos. Uma cantiga alegre que vai se estendendo...

E é então que começa a canção que, segundo Paul McCartney, é a música mais bela de todos os tempos. “God Only Knows” tem o vocal triste e bonito de Carl Wilson. A música começa com um tom meio fazendeiro, mas é só a apresentação da letra memorável que diz que “só Deus sabe o que eu seria sem você...” Melodia e letra se confundem de forma brilhante, o violino conduz a sinfonia em meio a sons de todos os cantos... Emocionante. (Opinião pessoal: melhor música do álbum.)

“I Know There‘s An Answer” se guia pela letra, que tem o refrão lindo e uma letra que trata de ego e opinião alheia. Os instrumentos estão soberbos, mas já está se tornando um pouco lugar-comum dizer isso...

A faixa seguinte tem uma das letras e melodias mais lindas que Brian Wilson pôde inventar. “Here Today” começa lenta e baseada principalmente no vocal, até o momento em que entram os backing vocals e tudo se torna uma longa e alegre canção sobre amor, que vai, volta e vai de novo. É o tipo de canção que quem não gosta de Beach Boys tem que ouvir para aprender a gostar.

É na letra que se baseia “I Just Wasn‘t Made For These Times”: uma canção sobre incapacidade de se relacionar, algo profundo que só Brian Wilson poderia fazer. Os vocais se tornam emocionantes, os instrumentos se tornam mais harmoniosos, e o ouvinte fica parado em frente à caixa de som sem mexer um músculo, apenas admirando.

“Pet Sounds”, faixa-título, é instrumental. As cordas soam no fundo de uma maneira tão estranha, mas tão bela, e chocalhos se confundem de tal maneira que você chega a imaginar uma letra para tal melodia...

E é com a triste e linda “Caroline, No” que se encerra a obra-prima dos garotos da praia. Fala sobre amor perdido, tão calma, de forma que os bongôs que tocam no fundo dão a impressão de batimentos do coração, e no fim os tais “sons de animais” mistos a um trem, fecham o álbum... genial.

E acaba o disco. Se existiu algum rival à altura dos Beatles, em composição e arranjos, nunca foram os Rolling Stones: estes estavam ocupados demais revolucionando o blues. Foram os Beach Boys que entraram como banda que revolucionou o rock melódico, influenciando um sem-número de músicos posteriores com sua maneira de tocar e cantar. Brian Wilson poderia morrer feliz depois desse álbum: tinha conseguido chegar ao canto dos anjos.

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Poueréde bai Bróguer
e Meu saco em mexer em templates (e meu também.) [Ei, caralho! Eu também quero um link!]